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Malmequer, Casal de Ameixeira |
A vegetação da freguesia da Ega, caso não tivesse sofrido a intervenção do homem, seriaconstituída por uma mancha florestal composta principalmente por bosques mistos dominados por espécies de carvalhos que cobririam colinas e montes, bosques húmidos de ulmeiros, freixos, salgueiros e amieiros que revestiriam as várzeas e as margens das linhas de água.
No entanto, devido à intervenção contínua pelos diferentes povos que ocuparam o território, às invasões e guerras, à influência dos Descobrimentos, aos problemas ambientais e às necessidades humanas, a paisagem foi sendo substituída por culturas agrícolas e florestais e muitas das áreas incultas desflorestadas ficaram dominadas por matagais onde faltam já muitas das espécies que originalmente os habitavam.
Heterogeneidade vegetal
A diversidade geológica contribui para a grande heterogeneidade ambiental da freguesia. As colinas calcárias, drenadas por uma complexa rede de algares, grutas e fendas, retêm muito pouca água à superfície e abrigam espécies raras adaptadas às condições extremas de secura e alcalinidade do solo, comunidades vegetais rupícolas, que vivem nas escarpas, em fendas na rocha ou nos tradicionais moroiços e muros de pedras, prados secos com comunidades de orquídeas selvagens, matos mediterrânicos ricos em plantas aromáticas e bosques de carvalhos com os seus estratos arbustivo e herbáceo associados.
Árvores e arbustos
Nestes bosques mediterrânicos as árvores são, normalmente, de pequeno porte. Possuem cascas duras, grossas e grandes ramificações, como acontece com o carvalho-português (Quercus faginea), o carrasco (Quercus coccifera), a oliveira (Olea europaea) e o sobreiro (Quercus suber). Nestas espécies as raízes são profundas, o que lhes permite ir buscar água a locais inacessíveis a outras plantas.
Algumas plantas desenvolveram folhas duras, como as do carrasco (Quercus coccifera), para não murcharem com a falta de água, ou cobertas por uma película serosa como é caso do medronheiro (Arbutus unedo), a murta (Myrtus communis) ou a gilbardeira (Ruscus aculeatus).
Outras plantas desenvolveram folhas pequenas, para reduzir a superfície de evaporação, por vezes tão reduzidas que parecem agulhas, como o pinheiro (Pinus pinaster), ou espinhos, como o tojo (Ulex parviflorus) e os espargos (Asparagus officinalis). Há ainda folhas que têm pelos, como as da oliveira (Olea europaea), sobreiro (Quercus suber) ou roselha (Cistus crispus). Todas estas diversas formas servem para evitar a perda de água. Muitas destas plantas produzem óleos essenciais e aromas que criam uma atmosfera saturada ao redor da planta, como no caso do alecrim (Rosmarinus officinalis), rosmaninho (Lavandula luisieri) e tomilho (Thymus zygis).
Nas margens do rio crescem juncos (Juncus sp.) salgueiros (Salix sp.), freixos (Fraxinus excelsior), amieiros (Alnus glutinosa) e alguns ulmeiros (Ulmus minor).
Plantas briófitas e pteridófitas
Nas grutas há muita humidade mas, por ausência de luz, não cresce vegetação a não ser na penumbra, na proximidade das entradas, onde florescem verdejantes comunidades de musgos, hepáticas e ainda fetos, conhecidos pelo seu valor ornamental.
Vegetação em meios aquáticos
Toda a água que se infiltra pelas fendas e grutas é conduzida por rios subterrâneos para as nascentes, contribuindo para a fertilidade das húmidas planícies de aluvião, hoje quase todas cultivadas. Nestas nascentes cársicas podemos encontrar comunidades de plantas aquáticas que têm um papel importante na purificação e oxigenação da água e que incluem espécies vegetais raras, como o junco (Juncus heterophyllus), ou cada vez menos frequentes, devido à crescente poluição e destruição dos habitats aquáticos da Europa. Por este mesmo motivo, a Nascente da Arrifana recebeu em Maio de 2013 a visita de especialistas em plantas aquáticas da IUCN (União Internacional de Conservação da Natureza), que reconheceram a importância da conservação deste local e da sua vegetação.
As plantas aquáticas têm adaptações interessantes como espaços ocos dentro das folhas, que lhes permitem flutuar para aproveitar melhor o sol, como as colheres (Potamogeton nodosus) e a lentilha de água maior (Lemna gibba), ou dentro dos caules, como acontece com a serralha-da-água (Groenlandia densa), o agrião-de-água (Nasturtium officinale) a rabaça (Apium nodiflorum), a verónica (Veronica catenata), a junça (Cyperus longus), e a menta aquática (Mentha aquatica). Nestas águas calcárias são também frequentes algas do género Chara que, pelo seu tamanho e aspecto ramificado, facilmente são confundidas com plantas superiores. Algumas plantas aquáticas podem ter diferentes tipos de folhas na mesma planta, como é o caso do ranúnculo (Ranunculus peltatus) que tem folhas finas como cabelos na parte submersa e folhas flutuantes à superfície, formando um bonito tapete de flores brancas que cobre o Rio dos Mouros na primavera.